4 e 6 de Julho | Teatro Diogo Bernardes | 21h30
“Viagem a Buenos Aires” - Concerto encenado
Marina Pacheco & Olga Amaro
Conceção - Marina Pacheco, Olga Amaro e Pedro Lamares
Encenação e Dramaturgia - Pedro Lamares
Luz - Pedro Cabral
Fotografia - António Carlos Matos
Som - Inês Lamares
Figurino - Elisabete Castro
CO-produção - Marina Pacheco & Olga Amaro / Em Cena (AMFF)
Interpretação
Voz - Marina Pacheco
Piano - Olga Amaro
Violino - Carlos Pinto da Costa
Violoncelo - Nuno Cruz
Poemas ditos - Pedro Lamares
Quando pensamos em Tango, pensamos quase inevitavelmente num homem e
numa mulher. Num vestido vermelho que revela as pernas em meias rendadas. Numa
rosa na boca, se quisermos ir ao limite do lugar-comum. Em suma, pensamos na
expressão da sensualidade, num belíssimo jogo de sedução. Numa iminência
latente que lembra o cinema, quando a cena é cortada no auge da tensão erótica
para uma elipse de tempo, porque é já claro para o espetador o que aconteceu
entretanto. Se é verdade que, na arte como na vida, a “sugestão” preserva uma
sensualidade e elegância que normalmente a “exposição” acaba por desmistificar,
não é menos verdade dizer que o Tango nem sempre foi tão elegante e contido.
Tão conveniente aos nossos padrões sociais europeus.
Nascido nas zonas portuárias de Buenos Aires e Montevideo em pleno séc.
XIX, era dançado inicialmente entre homens, por vezes como expressão bélica, de
faca na mão, em disputa por um “engate”, um “estatuto” ou por outros desacatos.
Segundo se sabe, terá nascido entre os marinheiros alemães e a população local,
com a música que por ali se fazia. Só depois começou a ser dançado em pares
mistos, nos prostíbulos. Em todo caso, é inequívoco que o Tango nasceu entre os
marinheiros que desembarcavam nas margens do Rio de Prata em busca de algo mais
do que mantimentos e descanso. Décadas mais tarde começou, a custo, a ser
aceite e dançado pelas classes mais altas até ser “importado” pela sociedade
parisiense e definitivamente disseminado pela Europa e resto do mundo. Hoje é
Património Imaterial da Humanidade, designado pela UNESCO.
Fruto das viagens e dos marinheiros, nasceu na América do Sul e
tornou-se, ele próprio, pela sua riqueza e simbologia, a embarcação que leva a
bandeira da cultura argentina pelo o mundo, tendo sido responsável por nos dar
a conhecer músicos como Astor Piazzolla e Carlos Gardel. Hoje, é indissociável
do nosso imaginário de Buenos Aires. O Tango traz-nos a Argentina, como a Bossa
Nova nos leva ao Brasil e Hollywood nos traz os Estados Unidos. Porque a arte
não só viaja como nos ensina a viajar.
Só se pode ver bem com o coração. O essencial é Invisível aos olhos,
escreveu Saint-Éxupery. Foi assim que quisemos olhar o Tango, nesta viagem. Sem
a pretensão de contar a sua história, sem o delírio de pretender estar lá,
estando cá. Focando na identificação em detrimento da ilustração. Cerrando os
olhos para aprender a olhar. E sentimos o fado muito próximo. Talvez porque “O
Tango é um sentimento triste que se pode dançar”, segundo Discépolo, poeta
Argentino.
O espetáculo é uma viagem musical, poética e fotográfica pelo nosso
imaginário, partindo de Portugal, com escala em Cabo Verde e no Brasil, destino
a Buenos Aires, que pode ser qualquer lugar dentro de nós. Daqueles que nos
trazem memórias de coisas que não vivemos, pelo menos de forma consciente.
Procuramos a tal “iminência”. A “sugestão”. A “elipse” entre pensar em ir e já
lá estar. O “quase” que tantas vezes somos e a “saudade” que dizemos que somos
e tantas vezes não sabemos bem de quê...
Pedro Lamares
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